Constrói-se aos poucos. Destrói-se aos pedaços.” é uma exposição individual de Guilherme Silva, que reúne um conjunto de esculturas modeladas em cera – algumas convertidas a bronze – e uma série de pinturas a pastel seco e óleo. Uma carrinha de brincar torna-se o veículo de um assunto sério, quando é posta à prova em diversas situações satíricas e fictícias. A ironia está intrínseca no destino desta carrinha, deste veículo, que não é mais do que um exemplo metafórico de uma outra coisa, um meio de expressão para atingir os melhores resultados mesmo nas piores circunstâncias.
Inaugura no próximo dia 10 de Março, sexta-feira pelas 18h00.
A residência artística dos estudantes de Práticas Artísticas Sociais da ESAD.CR, no Museu do Hospital e das Caldas parte da pesquisa do património material e imaterial do museu, seguido de trabalho de campo, para exploração de vários aspetos de construção da obra site-specific. Neste último momento há a partilha da exposição onde os artistas residentes tratam referentes como: a água, o fluxo do tempo, a cura, a nascente no bordo oeste da Serra dos Candeeiros, as salas dos banhos termais, o pedilúvio e o manilúvio, as memórias do parque, a rainha e o rei, ou os querubins – que evocam seres não-binários.
A exposição INFILTRAÇÕES, é o resultado dos trabalhos produzidos, agora em exibição no Museu. Poderá ser vista até ao próximo dia 9 de Julho entre terça e sábado das 10h00 às 16h00.
O mote é a arte, porém o património assume-se como espaço primordial na criação, desenvolvimento e exposição de obras, no contexto cultural e artístico que se vive por estes dias no Museu.
A sua salvaguarda não podia por isso ficar descurada, e a oportunidade para dar a conhecer, é também a oportunidade para sensibilizar e fomentar boas práticas na sua utilização.
O acolhimento do projecto apresentado pelo colectivo CasaAbaixo, inserido no Caldas Late Night, permitiu desenvolver uma parceria que vai de encontro aos objectivos, comuns, propostos.
Nesse sentido, e por iniciativa própria, propuseram-se a fazer uma limpeza do espaço. Foram três dias de lavagens, tentando remover graffitis das janelas e pedras de toda a zona do anfiteatro do Museu.
Sabemos porém que esta é uma tarefa ingrata. Além das características da pedra, da fragilidade dos vidros, e das tipologias de tinta utilizadas, foram vários os momentos em que, enquanto se limpava de um lado, alguém riscava do outro.
Fica porém o registo do esforço colectivo, e acima de tudo da sensibilidade demonstrada, resultando numa campanha de sensibilização que facilmente se espalhou por toda a comunidade do CLN.
E fica para futuro a perspectiva de mais acções, concertadas com outros agentes, com o objectivo de voltar a intervir nestes espaços, e de procurar desenvolver uma dinâmica cultural mais frequente, que valorize este património.
Afinal, e servindo de mote a esta iniciativa, opatrimoniotambememeu.
Enquadrado nas áreas estratégicas de desenvolvimento da ESAD.CR – Bem-Estar e Ambiente e Contributos para o Desenvolvimento dos Territórios, assim como no acordo estabelecido com o Plano Nacional das Artes e os Agrupamentos de Escolas de Caldas da Rainha, a ESAD.CR propôs ao Museu do Hospital e das Caldas uma Residência Artística destinada aos estudantes da disciplina de Práticas Artísticas Sociais, orientados pela professora Ana João Romana, e com o apoio da equipa do museu.
O calendário definido para a residência artística iniciou no dia 8 de Abril, com uma visita orientada aos espaços e coleção do Museu do Hospital Termal pela Dora Mendes. Após este primeiro contacto os estudantes tiveram sessões de trabalho no museu e no espaço do sótão da Lavandaria nos dias: 22 e 29 de Abril e 6, 10 e 17 de Maio de 2022. Partindo do referente lançado pela Escola Raúl Proença, os estudantes da ESAD.CR irão trabalhar também conceitos de “Eu sou Água”, em articulação com o património do museu. Durante a residência foram propostas práticas artísticas baseadas em contextos sociais, e sugerido aos estudantes que exercitassem o colectivo, desenvolvendo projectos em colaboração, participativos e/ou comunitários. A residência artística foi dividida em três momentos: um de pesquisa a partir do património material e imaterial do Museu do Hospital Termal, seguido de um momento de trabalho de campo, de exploração de vários aspectos de construção da obra colaborativa, com a possibilidade de incluir metodologias participativas e/ou activistas, ainda a definir pelo grupo de estudantes. O último momento é o de partilha dos processos, objectos e conclusões do período de residência.
O Museu do Hospital e das Caldas associa-se à Festa da Cerâmica 2022, e à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, promovendo nos próximos dias 15 e 29 de Junho visitas guiadas ao seu património.
Durante esta período serão destacadas algumas peças cerâmicas da colecção do Museu, bem como alguns dos revestimentos azulejares da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo e Capela de São Sebastião.
Para mais informações: 262830774 ou mushospcaldas@choeste.min-saude.pt
Partindo do tema iconográfico de Nossa Senhora do Leite, homenageamos o milagre da vida, o nascimento, o acto de cuidar tão próprio do feminino que habita em cada mulher.
A iconografia de Nossa Senhora abrange todas as fases da sua maternidade através da Nossa Senhora da Anunciação, da Encarnação, do Ó e do Leite, para além das diversas representações de Maria com o Menino Jesus no presépio ou no colo durante a infância.
Remonta à composição egípcia da deusa Isis, deusa da maternidade e fertilidade, a aleitar Horus (Harpócrates), cristianizada pela arte copta. O tema tornar-se-á mais popular a partir do Séc. XII, e em especial no Séc. XIV, associando-se a sua expansão ao seu significado teológico: o de Deus que, no Senhor Jesus, o Menino Lactente, assume a nossa humanidade. Em Lucas 11,27-28 pode-se ler “Bem-aventurado o ventre que Te trouxe, e os peitos que Te amamentaram”.
Surge em vários tipos de suporte como pintura, escultura e iluminura, com algumas variações no que diz respeito à posição da Virgem (em pé, sentada ou deitada), na maneira de representar os seios, e na posição do Menino que começa por estar de costas e se vai voltando para o espectador.
A temática foi amplamente representada pelos flamengos, a sua vertente realista para tal terá contribuído. A sua importação para Portugal foi natural, seguindo as correntes de então, tendo vários artistas representado esta temática.
Embora as representações da nudez nas imagens sacras fossem desencorajadas a partir do Concilio de Trento, a representação de Nossa Senhora do Leite sobreviveu no Barroco.
A imagem aqui exposta, representando Nossa Senhora da Graça, é de autoria de José Molina, Séc. XVII, tendo sido colocada na Capela de Nossa Senhora da Graça no então Hospital Termal Rainha D. Leonor.
Também no Hospital o papel da mulher sempre foi preponderante, assumindo esta, diferentes responsabilidades no processo de fundar, gerir, cuidar da “Casa” e do doente.
Memorável pelos seus vários feitos nos campos da assistência, da saúde, mas também das artes, a Rainha D. Leonor viu-se desafiada a conseguir criar um hospital numa região que, ao que tudo indica, estaria pouco povoada: Impunha-se-lhe o desafio que fundar uma instituição única até então, dando resposta a uma estratégia nacional de cuidados de saúde, mas também de importar a modernidade que se vivia nos mais modernos hospitais do renascimento Italiano.
A sua grandiosa obra não se ficou por aqui, tendo antes expandindo-se naquela que é talvez a sua maior marca e legado, as Misericórdias Portuguesas.
É no cuidar que a mulher se destaca no Livro do Compromisso do Hospital. Assinado pela Rainha em 1512. Embora as regras da “Casa” fizessem pesar sobre este género as maiores exigências de boa conduta moral, na verdade eram vários os ofícios entregues à responsabilidade da mulher.
O Compromisso refere algumas virtudes exigidas a todos os que trabalhavam no hospital, homens ou mulheres. Honestidade, “boa-vida”, honestos costumes, letrado, discreto e virtuoso, entre outras, são algumas das expressões utilizadas. O bom funcionamento tornava necessário que todos cumprissem com as suas obrigações, dando especial atenção à separação de géneros, por forma não criar distracções no cumprimento dos deveres. Os espaços eram por isso definidos em função de quem os habitava dentro da instituição. E alguns objectos ganhavam importância pela sua conotação a estas regras de clausura. É frequente a referência às chaves e fechaduras, entregues à responsabilidade da enfermeira-mor, no caso das mulheres, que tinha o encargo de cuidar e fazer cumprir as regras impostas.
Também as enfermas admitidas no hospital ficavam sob a autoridade de uma enfermeira que as “guardava e vigiava”.
O estado matrimonial era também tido em conta no momento de seleccionar oficiais, já que são poucas as vezes que encontramos mulheres solteiras a trabalhar dentro do hospital, fossem elas enfermeiras, lavadeiras, cozinheiras ou amassadeiras. Estas eram, muitas vezes, admitidas junto com o marido que servia no hospital, na correspondente ala masculina.
Hoje o papel da mulher expande-se para além de portas fechadas, e ainda que estejamos longe de um ideal de respeito universal pelo género feminino, são louváveis as conquistas alcançáveis.
De entre muitas das mulheres que com o seu esforço e dedicação marcaram a sua passagem pela história da saúde, destacamos hoje duas delas que fizeram parte do quotidiano da nossa instituição: Enfermeira Parteira Aurora do Hospital de Peniche, e a Enfermeira Dona Maria França do Hospital de Torres Vedras.
É desta forma que assinalamos o Dia Internacional da Mulher, homenageando-a na sua génese feminina, mas também na valorização do seu trabalho e cuidado pelo próximo.
HANSEN STORIES – UMA EXPOSIÇÃO QUE CONTA HISTÓRIAS EM TORNO DE UM HOSPITAL E DE UMA DOENÇA*
O Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais (CMRRC-RP) foi criado em 1996, na sequência da extinção do Hospital Colónia Rovisco Pais (HCRP). Herdou todo o património da antiga Leprosaria Nacional e o dever de assistir os ex-doentes que ali continuaram a residir após a alta clínica. Desta herança nasceu a ideia, seguida por várias administrações, e sonhada por vários funcionários e ex-doentes de criar um espaço museológico.
Nos últimos anos, o CMRRC-RP, tem desenvolvido atividades de recuperação do património arquivístico, bibliográfico, fotográfico, científico e médico do antigo Hospital e recentemente abriu ao público, numa das alas da antiga capela o Núcleo Museológico do Hospital Colónia Rovisco Pais (NMHCRP).
No decorrer deste processo, tornou-se evidente a necessidade de adotar uma estratégia holística de recuperação e revitalização do património face a uma instituição (HCRP) com uma missão abrangente, em torno da qual gravitavam uma multiplicidade de histórias, vivências diversas e um conjunto considerável de fragmentos do passado. Foi neste contexto, que surgiu o projeto “Rovisco Pais old leprosy – a museological nucleus and storytelling website”, desenvolvido com o apoio da Sasakawa Health Foundation (SHF) – fundação japonesa que colabora com Organização Mundial da Saúde no combate à doença de Hansen em todo o mundo –, através do qual se deu início à partilha e divulgação pública de um legado singular, através do storytelling e da museologia. E, no âmbito deste projeto, foi concebido o website Hansen Stories, composto por uma coleção de memórias de ex-utentes e ex-funcionários do HCRP, recolhidas através de técnicas de história oral. A exposição Hansen Stories surgiu como uma das faces visíveis daquele “projeto centrado na memória das pessoas que o viveram”[1]. Nela se exibem catorze histórias orais inéditas, que revelam “na primeira pessoa” diferentes vivências em torno de uma doença e de um hospital.
O Hospital Colónia Rovisco Pais foi inaugurado em 7 de setembro de 1947 e adotou o nome do benemérito, que, deixando a sua herança aos Hospitais Civis de Lisboa, possibilitou a sua construção. Era um hospital especializado no tratamento e investigação da doença de Hansen, hanseníase ou lepra e a sua criação ocorreu num contexto de surgimento de hospitais especializados e de adoção de políticas de confinamento dos doentes contagiantes como forma de profilaxia[2], que, a médio prazo, originou a ascensão da leprologia moderna e a medicalização da doença. Possuía capacidade para cerca de mil doentes e a sua ação tinha uma abrangência nacional. Representou, na altura, um singular e importante projeto de saúde pública, e teve um papel decisivo na quase erradicação da doença em Portugal.
Implantado na Quinta da Fonte Quente (Tocha – Cantanhede), uma grande propriedade com cerca de 140 hectares, onde se situava uma antiga estância de férias dos frades crúzios, o HCRP beneficiou de um local amplo e abrigado, com uma lagoa, e condições ideais para uma colónia agrícola, que possibilitou a almejada autossuficiência. Por outro lado, situava-se próximo das regiões mais endémicas, os distritos de Leiria, Coimbra e Aveiro.
A sua estrutura e organização pavilhonar seguiu as orientações do relatório da Comissão da Lepra (1934-1938), dirigida pelo Diretor-Geral da Saúde, Dr. José Alberto Faria. O projeto, desenhado pelo arquiteto Carlos Ramos, contou com os contributos do modelo de medicina social, defendido pelo Professor Bissaya Barreto, presidente da respetiva Comissão de Obras, desde 1940, que, aquando da sua inauguração, o descrevera como uma “verdadeira lazorapolis, povoação moderna e higiénica, com tudo o que é preciso para tornar atraente a vida daqueles que renunciaram aos seus direitos sociais pelo benefício da coletividade”.[3] E, de fato, esta aldeia terapêutica, com condições de grande qualidade passou a ser a residência de centenas de doentes contagiantes, que a legislação portuguesa, por questões profiláticas, obrigou ao internamento. Ali dispunham de um hospital para 74 doentes; dois asilos para 90 doentes, cada, seis casas para 150 doentes com capacidade de trabalho; cinco núcleos familiares com casas para 270 doentes, capela; conventinho para a comunidade de Irmãs Filhas da Caridade, de S. Vicente de Paulo; serviços centrais, com cozinha e lavandaria; serviços administrativos e de assistência social e oficinas para doentes. Para as crianças dispunha de uma creche e preventório e para os funcionários um bairro residencial.
Neste Hospital-Colónia, a assistência aos doentes de Hansen abrangia aspetos educativos, profiláticos, terapêuticos e de reabilitação, assegurados pelos serviços clínicos e sociais. No domínio da assistência clínica, os doentes eram acompanhados por diversas especialidades, como nos deu conta a Enfermeira Mavilde Melo[4]. Além da dermatologia, existiam especialidades como a oftalmologia, a estomatologia, a otorrinolaringologia, a psiquiatria, a radiologia, a ginecologia e obstetrícia, a cirurgia geral e plástica, a que se juntavam tratamentos de fisioterapia efetuados no serviço de recuperação. O laboratório era uma peça essencial neste sistema, pois era o único a realizar testes para detetar o bacilo de Hansen e a produzir a lepromina, teste criado pelo japonês Mitsuda que permitia a identificação do tipo de lepra de um doente e o grau de imunidade ao bacilo em pessoas sãs. Sobre este serviço, nos elucidam as memórias partilhadas pelo Sr. Jorge Raínho, último funcionário do laboratório[5].
A par dos serviços clínicos internos, o HCRP dispunha de um importante serviço externo, assegurado pelas Brigadas Médicas, de que o Enfermeiro Mário Bexiga partilhou algumas recordações[6]. Eram compostas por um conjunto de profissionais de saúde e de serviço social, que percorriam o país, fazendo o rastreio de novos casos, o acompanhamento clínico e social dos conviventes de doentes conhecidos, ou de doentes que se encontravam nos seus domicílios. O seu principal objetivo era a identificação precoce dos novos casos de forma a iniciar o tratamento, o mais rapidamente possível, e assim evitar a existência de situações avançadas da doença, como as que se verificavam nos primeiros doentes internados no hospital. O trabalho destas equipas permitiu o conhecimento, no terreno, das condições dos doentes e do evoluir da doença, o recenseamento exaustivo dos doentes e a clarificação de alguns casos que tinham sido mal classificados no inquérito realizado pela Comissão da Lepra. O esforço resultou na identificação de 2.765 doentes de Hansen em Portugal até 1962, ou seja, quase o triplo dos que eram conhecidos e registados na Direção- Geral de Saúde quando o HCRP acolheu os primeiros doentes, em Outubro de 1947.
A introdução da sulfonoterapia, sobretudo a partir de 1955, criou condições para o gradual controlo da doença e a concessão de altas provisórias. Muitos doentes com lepra lepromatosa[7] puderam regressaram assim às suas residências, beneficiando de tratamento de reforço, fornecido gratuitamente. Contudo, era necessário garantir que o mesmo era corretamente efetuado, para evitar reinternamentos. Para o efeito, foi criado o Serviço de Enfermagem Domiciliária do HCRP, a partir de 1962, detalhadamente descrito pelo Enfermeiro Elias Paiva nas suas memórias[8].
No Hospital-Colónia os dias dos doentes eram pautados por rotinas da assistência clínica permanente e incluíam tratamentos, pensos, análises ou consultas. Aos domingos, podiam receber visitas e consoante a evolução do tratamento e o resultado das análises poderiam beneficiar de licenças ou altas provisórias, para irem a casa, visitar a família. Mas os internamentos prolongados, por um lado, e a existência de doentes com relativa autonomia, por outro, possibilitou o desenvolvimento de atividades de reabilitação educativa e profilática, de formação dos doentes, quer através da escola de adultos, quer através das oficinas e brigadas de trabalho e de atividades lúdicas materializadas em novas formas de terapia – a ergoterapia e a ludoterapia. O Serviço Social e a comunidade religiosa que residia no conventinho eram dinamizadoras destas atividades que potenciavam a sociabilidade na comunidade hospitalar, como referem as memórias partilhadas pela Irmã Maria Emília Bernardino[9] e pela auxiliar de serviço social, D. Maria Emília Monteiro Pais Alves[10]. Os doentes que podiam e queriam trabalhar, recebiam pelos serviços efetuados e com as quantias ganhas podiam ajudar as famílias, ou amealhar, para o recomeço de vida, quando tivessem alta hospitalar. Fernando Gomes, ex-doente, trabalhou como sapateiro, e contou o seu percurso na que ainda hoje é a sua casa[11].
Todas estas dinâmicas, que têm vindo a ser relatadas pelos entrevistados, nas suas memórias, contribuem para a preservação da história da última Leprosaria Nacional[12]. Considerada modelar pela comunidade internacional, como assinalou o Dr. Vítor Santos Silva, quando recordou o primeiro diretor daquele hospital, seu pai[13], foi elogiada, da seguinte forma por Raoul Follereau: “O Hospital Rovisco Pais é a mais bela instalação da luta antileprosa que tenho encontrado no mundo.” (…) Já fiz 17 vezes a volta ao Globo nesta missão de pugnar por tudo quanto diga respeito ao bem-estar dos leprosos. E nunca vi nada assim.“[14]
As stories que integram a exposição Hansen Stories acrescentam perspetivas à história, fazendo-nos imaginar o que seria o quotidiano no Hospital Colónia Rovisco Pais. E, como quase todas foram recolhidas numa fase de confinamento, e apontam paralelismos entre o que se verificou com a lepra e o que vivemos com o Covid19, constituem importantes elementos para uma reflexão bastante atual em torno da forma como o ser humano encara a doença. Este terá sido também um aspeto positivo na adesão surpreendente que esta exposição itinerante tem verificado, a qual já tem pedidos de reserva até ao terceiro trimestre de 2022[15].
*Cristina Nogueira (CulturAge)
Curadora da exposição Hansen Stories e do Núcelo Museológico do Hospital Colónia Rovisco Pais
[1] Do discurso de inauguração do NMHCRP, proferido por Isabel bento, presidente do CA do CMRRC-RP.
[2] A lepra ou doença de Hansen como também é designada, foi durante muito tempo considerada uma doença contagiosa e hereditária. Apenas com a descoberta do seu agente etiológico – o mycobacterium leprae, por Gerhard Hansen em 1873, passou a ser identificada como uma doença microbiana.
[3] Bissaya Barreto. Quinze anos de obras públicas. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1947.
[14] Entrevista dada ao Diário de Coimbra em 1957 por Raoul Follereau (1903-1977), incansável protetor e reabilitador dos hansenianos, que visitou o Hospital Colónia Rovisco Pais em 1958 e 1967.