O edifício onde se instalou o Museu tem origem na antiga “Caza Real”, assim conhecida por nela ter “assistido” a rainha D. Leonor. No séc. XVIII, o imóvel terá sido remodelado e apropriado para residência dos provedores e tesoureiros do Hospital, enquanto as comitivas régias preferiram alojar-se nas melhores residências da vila. Em 1861, foi feito um projecto de reabilitação, pelo engenheiro Pedro José Pézerat, que ampliava o edifício e nobilitava a fachada através de um traçado classicista semelhante ao actual.
Foi em 1894, que o imóvel recebeu de novo obras, na administração de Rodrigo Berquó que adquiriu mobiliário próprio já que, até essa data, o existente era propriedade de cada administrador. A partir desta altura, o imóvel passou a oferecer as condições dignas para albergar os directores e servir de alojamento à familia real que, periódicamente, se deslocou às Caldas até ao final da Monarquia.
Com várias funções, durante um longo período do século XX, o imóvel foi devolvido ao Centro Hospitalar que, dado o seu estado de ruína, procedeu à sua recuperação, a partir de 1992, para a instalação do Museu do Hospital e das Caldas. Esta intervenção foi elaborada pelo Gabinete de Planeamento do Centro Hospitalar, que optou por recriar uma residência nobre, com espaços sequenciais, tectos de caixotão e tabuado, mantendo o traçado original da fachada principal.
Para o projecto de execução do estudo do Museu, o Centro Hospitalar solicitou apoio ao Instituto Português de Museus, que designou o Director do Museu de José Malhoa como seu coordenador. O desenvolvimento do projecto foi um trabalho de colaboração entre o Património Histórico – Grupo de Estudos, Museu de José Malhoa, Museu da Cerâmica e a Fundação Caloust Gulbenkian, através do seu Serviço de Exposições e Museografia e o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão.

Centro Hospitalar do Oeste E.P.E.
Resenha Histórica
O entendimento daquele que é hoje o complexo patrimonial em que se enquadra do Centro Hospitalar do Oeste Norte, E.P.E., só é possível à luz do conhecimento histórico e conjectural que motivou, não apenas o surgimento desta instituição, mas também o seu modelo de gestão ao longo dos tempos.
Ainda que de origem recente, o Centro Hospitalar Oeste reúne instituições cuja história da assistência em saúde nos deixam legados patrimoniais que se confundem com a história dos próprios núcleos urbanos onde estão inseridos.
Pela portaria nº 276/2012, publicada em Diário da República, foi criado o Centro Hospitalar do Oeste, passando a assumir-se em pela portaria nº 115/2018, como Centro Hospitalar do Oeste E.P.E., integrando o Centro Hospitalar de Caldas da Rainha e com ele o Hospital Termal Rainha D. Leonor, o Hospital São Pedro Gonçalves Telmo de Peniche e o Hospital Distrital de Torres Vedras que englobava o então Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior – antigo Sanatório do Barro.
Tendo por base a fundação daquele que é considerado por Augusto da Silva Carvalho, como o primeiro Hospital Termal do Mundo – Hospital de Nossa Senhora do Pópulo, propõe-se uma abordagem integrativa que se alarga na história da saúde na europa, posicionando Caldas da Rainha, e a região Oeste, a par do Hospital de Todos os Santos e dos grandes e inovadores Hospitais do Renascimento Italiano.
A promoção da saúde não se extingue na fundação deste hospital e na originalidade da sua proposta de gestão, habilmente criada pela Rainha D. Leonor. Prolonga-se ao longo dos tempos, através de soluções inovadoras, como o Hospital de Santo Isidoro já no Séc. XIX, dando resposta às premissas de cuidados de saúde que se faziam sentir então, e às necessidades da população local.
Se a saúde do corpo foi amplamente tratada, a saúde da alma não foi descurada. É disso exemplo a construção da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo assegurando o tratamento espiritual dos doentes ou, mais tarde, o Parque D. Carlos I com todas as actividades lúdicas que animavam os que às Caldas da Rainha se vinham tratar.
Nas proximidades, os banhos de mar surgiram como forma de bem-estar, animando o corpo a curar-se nas águas salgadas, e implementando o hábito social de ir a banhos à praia nos inícios do Século XX. As magníficas praias de Peniche são, disso, exemplo.
Embora o Hospital S. Pedro Gonçalves Telmo seja relativamente recente, a história da assistência em Peniche é bem mais antiga, devendo-se a fundação do primeiro hospital à Confraria do Corpo Santo, em 1617.
Será em 1626, com a fundação da Misericórdia de Peniche, que a Irmandade de São Gonçalves Telmo, num gesto de profunda solidariedade, coloca o recente hospital à disposição da nova obra social, garantindo assim os apoios sociais e de saúde a todos os necessitados, bem como o patrocínio cultural para a Igreja vizinha, dos magníficos quadros de Josefa de Óbidos e de seu pai, Baltazar Gomes Figueira.
Por volta de 1831 as instalações do primitivo hospital encontravam-se bastante degradas, tornando-se necessário remodela-las para que as obrigações assistenciais pudessem ser cumpridas, o que acontecerá em 1930.
Afirmando a sua importância na história da saúde em Portugal, será em Peniche que se cria aquele que foi o primeiro Centro Cirúrgico do distrito de Leiria e um dos primeiros instituídos no país. É neste contexto, que será realizada, em 1954, uma intervenção marcante pela sua inovação: “Ferida do coração operada no Hospital de Peniche”, pelo Dr. Simões Moita.
Se a Rainha D. Leonor se constituí como elemento agregador de todas estas unidades hospitalares, na medida em que a Ela se deve a fundação das Misericórdias Portuguesas, também a Ordem de Santa Maria de Rocamador encontra na história do Centro Hospitalar do Oeste lugar de destaque.
A esta ordem se devem as primeiras explorações das águas termais nas Caldas da Rainha, mas também a constituição daquele que será o hospital mais antigo de Torres Vedras, o Hospital de Santa Maria de Rocamador, que se localizaria nas dependências da antiga ermida de N.S.ª do Ameal. Dever-se-á esta obra à Rainha D. Isabel, em 1310. O mesmo viria a ser entregue, em 1337 à Confraria dos Alfaiates.
Segundo o Compromisso do Hospital de S. Geão, no ano de 1359 “decidiram os sapateiros da então vila de Torres Vedras construir um hospital e uma ermida dedicadas ao seu santo protector, S. Julião ou, mais popularmente, S. Gião”
Já no século XVI, com a fundação da Misericórdia de Torres Vedras, e por ordem de D. Manuel em 1520, serão transferidos todos os bens da Confraria, entre eles, o Hospital do Espirito Santo, entretanto anexado. Será ainda, em 1859 anexado o Hospital do Machial. Objectivando melhorar as condições de assistência, será em 1943 inaugurado o novo edifício do Hospital ao serviço da Misericórdia, onde se encontra até aos dias de hoje.
A história cruza-se de forma geral na assistência e na saúde, no entanto, é na vertente de tratamentos respiratórios que confluem pontos comuns entre Caldas da Rainha e Torres Vedras, através do Sanatório do Barro.
Apesar de a sua criação remontar a 1956, a referência às suas qualidades como local de recuperação para os “fraquinhos do peito”, remonta à época da construção do primeiro edificado, em 1570, e reedificado em 1619. Fazendo consolidar a vertente assistencial que sempre se associou a este local.
A sua função inicial, religiosa, manteve-se ao longo da sua história, e apenas será rebatida com a implementação da república em 1910, com a inauguração em 1912 do Asilo Elias Garcia.
Após um período de abandono, devido às más condições do edifício, será então remodelado para instalação do Sanatório em 1956, funcionando até aos anos 90, altura em que é criado o Hospital José Maria Antunes Júnior, em homenagem ao seu administrador. Este seria integrado no Centro Hospitalar de Torres Vedras em 2001.
Com todo o exposto, é certo que o Centro Hospitalar do Oeste. E.PE. agrega na sua génese uma vasta área territorial e histórica, mas também uma complexa rede de bens patrimoniais, redes assistenciais e de cuidados de saúde que constituem memória de toda uma região.
A perpetuação da memória histórica que se traduz nos diversos bens á guarda desta instituição, é instrumento essencial para o cumprimento dos objectivos a que se propõe, sendo que o seu conhecimento contribuirá, em ultima análise, para um melhor entendimento da tarefa de cada um de nós nesta missão.
Caminhamos hoje objectivando uma perspectiva global, que parte das vicissitudes históricas e com as particularidades de cada uma das três comunidades hospitalares, que constituem o CHO, para a construção de uma unicidade potenciada pelo vasto conhecimento e experiencia na assistência e na saúde em Portugal, afirmando-se seguramente nos anais da história da saúde na europa.
Embora alguns dos bens patrimoniais não se encontrem no presente sob a administração do CHO, continuam indissociáveis na sabedoria e conhecimentos adquiridos por todos. Importam por isso constar como elementos parceiros na edificação do futuro, conferindo a cada um deles, em particular, e à história de toda a região, no geral, um sentido mais vasto e uma garantia de futuro alicerçada pela importância histórica que têm.
Abril 8, 2008 at 3:46 pm
Em todo o v/ site não há uma única referência à máquina do relógio da torre da Igreja, sendo uma peça rara e de grande valor arqueológico e alguma raridade, oferecida por D.João V, já no fim da sua vida.
Relógio “gaiola” , carrilhão, encavilhado e com pêndulo de tamanho raríssimo.
Março 5, 2012 at 5:38 pm
Aqui deixo algumas notas adicionais sobre a recuperação recente do edifício. No começo dos anos 80, solicitei ao Presidente da Câmara, Dr. Lalanda Ribeiro que a autarquia assumisse junto do GAT o projecto de recuperação do edifício, tendo anuido a esse pedido. A ideia era instalar nele o Museu com as componentes dispersas do património do Hospital Termal. Para a elaboração do programa, colaborou a Conservadora do Museu Malhoa, Dra Matilde Couto, a qual propôs o alargamento do nome do futuro Museu, incluindo o Hospital e a Cidade. O projecto foi entregue, primeiro ao Arquitecto Aboím, passando depois para o Arquitecto Remédios, dada a sua formação na Universidade de Florença em restauro de edifícios com valor histórico-cultural.
Já com o Arquitecto Remédios no Hospital, ainda nos anos 80, iniciou-se a recuperação do edifício, com recursos próprios do Centro Hospitalar. Quando saí da instituição, nos primeiros dias de 1990, a estrutura e o telhado estavam concluídos. O edifício finalmente estava em segurança.