Fevereiro 2021


Amores e desamores

Reinados no Hospital Termal Rainha D. Leonor

Se pelas águas nasceu o Hospital Termal de Nossa Senhora do Pópulo, foi pelo amor ao próximo que uma Rainha criou as condições para a construção e subsistência ao longo de mais de 500 anos, daquele que viria a ser considerado como o primeiro Hospital Termal do mundo.

“Aquela Rainha, tão portuguesa, e é a mais nobre personificação do amor ao próximo.” Júlio Castilho

Ainda que o seu amor pelo Rei D. João II não se tivesse constituído como um romance digno de novela, a manifestação do sentimento assumiu-se como marca da “Princesa Perfeitíssima”, pela prática constante de misericórdia e mais virtudes cristãs.

Ao nascer, foi destinada a João II de Portugal – o “Príncipe Perfeito” – por vontade e promessa de seu tio Afonso V. Casou com o primo direito a 22 de Janeiro de 1470 quando tinha apenas 12 anos de idade, e o noivo 15. O seu casamento com D. João II esteve envolto de muitas questões complexas, para além da infidelidade do rei, muitas foram as tragédias que abalaram a rainha, desde contendas familiares, onde se atestou o envolvimento do marido no assassínio do seu irmão e execução do seu cunhado; e a cruel morte de seu filho, numa queda de cavalo junto ao rio.

Não deixou no entanto que todos estes acontecimentos assombrassem o seu amor e bondade para com os indigentes e enfermos, que conjugado com outros factores, terá conduzido à fundação do Hospital de Nossa Senhora do Pópulo, que surgiu associado a um movimento de reformulação de assistência ao pobres e doentes do país, e o que de acordo com alguns historiadores terá funcionado como ensaio para aquela que viria a ser uma das suas maiores obras – as misericórdias.

Também as artes foram outra das paixões da rainha, tendo promovido a importação de obras de arte e dirigido inúmeras encomendas a mestres e autores portugueses na pintura, escultura, arquitectura e literatura. O seu envolvimento na promoção cultural traduziu-se ainda na protecção concedida a Gil Vicente e Damião de Góis.

A Rainha D. Leonor faleceu no seu Paço de Xabregas, nos arredores de Lisboa, junto ao convento do mesmo nome. Quis ficar sepultada no Convento da Madre de Deus, em campa rasa de pedra, num lugar de passagem para que todos a pisassem, gesto que demonstra a grande humildade da rainha, e que emociona. No fundo quis a monarca que o seu gesto mostrasse aos que por ali viessem a passar, o sinal da pequenez das coisas do mundo diante da eternidade.

Foram vários os Reis que passaram pelo nosso Hospital mantendo uma proximidade na gestão e reformulação do complexo termal, sendo alguns mais marcantes.

No que concerne a amores, D. João V merece especial destaque. São sobejamente conhecidas as suas aventuras e desventuras amorosas, as quais, ao contrário da Rainha D. Leonor, foram várias vezes dignas de registo em novelas.

 “O Rei-Sol Português”, em virtude do luxo de que se revestiu o seu reinado. Diz Veríssimo Serrão em «História de Portugal» que «era senhor de uma vasta cultura, bebida na infância com os padres Francisco da Cruz, João Seco e Luís Gonzaga, todos da Companhia de Jesus. Falava línguas, conhecia os autores clássicos e modernos, tinha boa cultura literária e científica e amava a música.»

Reinando no auge do Século XVIII, período de grande prosperidade nacional, não terá sido apenas por amor, tal Rainha D. Leonor, que D. João V empreendeu um conjunto de obras no Hospital Termal de Caldas da Rainha, das quais pouco restou do edifício primitivo. Desconhece-se aliás que alguma história amorosa esteja associada a esta obra, tal como esteve com a construção do Palácio de Mafra, em torno do qual são várias as especulações associadas, ganhando destaque a promessa feita pelo Rei a Deus de que edificaria um convento em Mafra no caso de lhe nascer descendência no prazo de um ano a contar daquela data.

O primeiro amor do Rei terá sido aos 15 anos por Filipa de Noronha, dama da Rainha Maria Sofia de Neuburgo, mãe do fogoso príncipe. Cheio de promessas de amor eterno e até de casamento, acabou em desilusão quando se deu o arranjo para o grande casamento do Rei. D. João V viria a casar-se com D. Maria Ana de Áustria em 1709, mas o seu coração transbordava de muito amor, e segundo o historiador Oliveira Martins, “D. João V perdia a cabeça por todas as mulheres, mas a sua verdadeira paixão estava em Odivelas, no ninho da madre Paula”. A verdade é que nesse tempo a vocação era uma das últimas razões para que as mulheres dedicassem a sua vida a Deus, e as visitas aos conventos faziam parte da regra social. Paula Teresa da Silva e Almeida, a famosa Madre Paula, foi a mais famosa das amantes do Rei. Conheceu o primeiro amor de sua vida no convento, o conde de Vimioso, porém, foi com o rei português D. João V que ela viveu o seu caso mais avassalador e duradouro. Como era seu costume, o Rei não fez segredo desta paixão que se tornou conhecida de todos, incluindo a Rainha. E, como também era sua prática, recompensou ao longo de vários anos, generosamente a sua amante. Ainda que várias vezes advertido pelo médico para que repousasse à noite, nem por isso o Rei acatava tais recomendações e continuaria a alimentar o seu espirito ardente.

Após a Madre Paula, seria D. Luísa Clara de Portugal, casada com D. Jorge de Menezes. As visitas a esta eram feitas aquando das ausências do seu marido e filhos para o Algarve. Ficou-se o epíteto de Flor da Murta, extensivo ao palacete onde habitava. Mas D. João V não se ficava pelas visitas a D. Luísa, também galanteava uma das suas criadas, chegando mesmo a nomear o irmão desta, sapateiro de ofício, como diplomata junto da Santa Sé, em Roma.

A última das amantes de D. João V, por volta dos seus 50 anos, terá sido a cantora de ópera Petronilla Basilli. Procurando manter-se à altura do desempenho requerido, o rei começou a tomar afrodisíacos.

Algum tempo depois começou-se a murmurar que o Rei estaria “acabado”, dedicando-se então a gestos de beneficência. Amante também da música e literatura, o rei impulsionou diversos serões musicais e literários. Incentivou a vinda de autores estrangeiros, a compra de livros, a construção de bibliotecas e introduziu a ópera italiana em Portugal. E a sua acção mecenática é marcada por forte religiosidade e espirito de fé, revelada nas ofertas de arte sacra e objectos litúrgicos às Igrejas de todo o país, como se comprova na valiosa doação destinada à Igreja de Nª Senhora do Pópulo, feita em 14 de Agosto de 1742.

O rei fez ainda nos últimos anos de vida, mais doze jornadas às Caldas da Rainha, para convalescer e descansar. Mas gradualmente adoeceu cada vez mais. Em Julho de 1750 piorou, vindo a falecer em 31 de Julho de 1750, após mais de quarenta anos de governo. Ao morrer, o rei tinha a seu lado a rainha e o príncipe D. José. Foi sepultado no Panteão dos Braganças, ao lado da esposa, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.

D. Carlos será o Rei reinante que marcará outro dos períodos mais relevantes na história do Hospital Termal Rainha D. Leonor, o século XIX. Período esse em que se verificou um entusiasmo socioeconómico sem precedentes, e em que as visitas da família real se tornam constantes nos meses de Verão, desencadeando-se dinâmicas de grande aparato social. Tornou-se óbvia a necessidade de modernização da estância termal, que incluía a separação entre balneário e hospital, para que o estabelecimento balnear fosse apenas destinado à aplicação terapêutica das águas.

Sob a alçada de Rodrigo Maria Berquó surgiu um projecto bastante ambicioso, que previa a construção de um novo edifício hospitalar, o designado novo Hospital Real D. Carlos. A troca de correspondência oficial comprova o pedido ao rei para dar o seu nome ao hospital, cuja autorização se verificou, quer para o hospital, quer para o parque arbóreo que envolvia o mesmo e que ainda hoje se mantém como ex-libris da cidade, Parque D. Carlos I.

O rei D. Carlos I foi considerado uma individualidade artística, homem de ciência, destacando-se também a nível da prática desportiva como equitação, caça e pesca. Demonstrou grande paixão pelas belas artes, distinguindo-se na aguarela e no desenho a pastel, ganhando diversas medalhas e diplomas. O seu reinado foi marcado por acontecimentos que anunciavam o fim da monarquia, como o Ultimato Inglês, revoltas no ultramar e a revolução republicana.

Em meados de 1880, a princesa Maria Amélia ficou destinada a D. Carlos, o Duque de Bragança, o casamento funcionaria para unir as linhagens austríacas e espanhola. Ainda assim, ficaram relatos de que, D. Carlos dono de cabelos loiros encaracolados terá conquistado o coração de Amélia logo que a viu pela primeira vez. A jovem descrita como gentil e carismática, também terá feito os olhos do duque brilharem. Em pouco tempo, os dois ter-se-ão apaixonado, e o seu casamento terá sido feliz.

O rei D. Carlos I enfrentou diversas crises no seu reinado, lutando contra a insatisfação popular Amélia fez um trabalho exemplar, com sua influência na corte portuguesa, a elegante monarca tentou erradicar a pobreza e a tuberculose. Mulher extremamente humana, chegando a assistir pobres e doentes nas suas próprias casas. Fundou a Assistência Nacional aos tuberculosos, que deu apoio às classes necessitadas. A bondosa rainha procurou garantir a prosperidade desta grande obra de humanidade.

Na tragédia de 1 de Fevereiro de 1908, em que foram assassinados o rei D. Carlos I, e o príncipe real D. Luís Filipe, seu filho, terá ela tentado impedir a desgraça, tendo a coragem de se impor, mas infelizmente não conseguiu.

 “Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração.”; Padre José Correia da Cunha

Antigo Deus do amor na mitologia Romanda, o Cupido descende de Eros na mitologia Grega. Filho de Vénus, Deusa do Amor, e de Marte, Deus da guerra, andava sempre com o seu arco pronto a disparar sobre o coração de homens e deuses.

Assim que nasceu, Júpiter prevendo as perturbações que iria provocar, tentou obrigar Vénus a matá-lo. Para o proteger tê-lo-á escondido num bosque, alimentando-se se leite de animais selvagens.  

A história do romance entre Psique e o Cupido, é relatada por Lucio Apuleio na obra Metamorfoses. A relação entre o Cupido e a sua amada esteve longe de ser pacífica, entre castigos e tarefas arriscadas, legadas pela deusa Vénus, a jovem princesa acaba por perder a vida e o Cupido recorre aos seus poderes para a trazer de novo à vida. Os Deuses, comovidos pelo amor de Psique por Cupido fazem dela uma deusa, para que ambos pudessem viver o grande amor que os unia, para toda a eternidade.

A palavra Psique, que em grego significa borboleta, é geralmente entendida como sinónimo de alma. A borboleta simboliza, desta forma, a imortalidade da alma. Por isso ela é a alma humana, purificada pelos sofrimentos e infortúnios, preparada para gozar a pura e verdadeira felicidade. Assim se explica que esta mortal se tenha tornado deusa e seja representada, em diversas obras de arte ao longo da história, como uma jovem com asas de borboleta juntamente com o Cupido.

Nas representações do Cupido, este aparece normalmente como um menino gracioso que carrega consigo um arco e setas. Os ferimentos provocados pelas setas que atirava despertavam amor ou paixão nas suas vítimas. Embora fosse algumas vezes apresentado como insensível ou descuidado, era geralmente tido como benfeitor, potenciando a felicidade entre casais, mortais ou imortais.

O Cupido foi retratado em várias obras, de vários artistas, de diferentes estilos e épocas que o retrataram na sua grandiosa acção. Em algumas das representações, o cupido aparece também com os olhos vendados, representando a velha ideia “o amor é cego”.

Buvete – Fonte oferecida ao Hospital Termal por D. João V, original em exposição no museu, encontrando-se uma replica no estabelecimento termal.

Fig. 137 – BPI 458

Imagem da fonte construída sobre o Pocinho pelo Administrador Francisco Eduardo Pimentel, antes das modificações introduzidas pelo administrador seguinte (Rodrigo Berquó). Observa-se a lápide alusiva a D. João V, ainda na parede em frente da entrada, antes de ser transferida para o local onde ainda hoje se encontra (à direita de quem entra).

Podemos confirmar esta afirmação através do manuscrito “Notícias Interessantes da Real Vila das Caldas, com alguns mapas curiosos do ano de 1797 e 1798”, que insere uma planta legendada (…), permite reconstruir a área térreo Hospital Termal, tal como se encontrava entre os finais dos séculos XVIII e XIX.

Planta B

Piso Térreo do Hospital termal das Caldas da Rainha tal como se encontrava em 1797

Reproduzido do Manuscrito Anónimo: “Notícias Interessantes da Real Vila das Caldas, com alguns mapas curiosos do ano de 1797 e 1798”

Bibliografia: “Caldas da Rainha- Um Contributo iconográfico através do Bilhete Postal Ilustrado editado até meados do Século XX”- Vasco Trancoso- Edições Elo – Lisboa – Mafra – 1999

O século XIX foi sem dúvida um período marcante para as termas caldenses, em que se verificou um entusiasmo socioeconómico sem precedentes. As visitas da família real tornam-se constantes nos meses de Verão, desencadeando-se dinâmicas de grande aparato social. Tornou-se óbvia a necessidade de modernização da estância termal, que incluía a separação entre balneário e hospital, para que o estabelecimento balnear fosse apenas destinado à aplicação terapêutica das águas.

 Sob a alçada de Rodrigo Maria Berquó surgiu um projecto bastante ambicioso, que previa a construção de um novo edifício hospitalar, o designado novo Hospital Real D. Carlos. A troca de correspondência oficial comprova o pedido ao rei para dar o seu nome ao hospital, cuja autorização se verificou, quer para o hospital, quer para o parque arbóreo que envolvia o mesmo e que ainda hoje se mantém como ex-libris da cidade, Parque D. Carlos I.

O rei D. Carlos I foi considerado uma individualidade artística, homem de ciência, destacando-se também a nível da prática desportiva da equitação, caça, pesca. Demonstrou grande paixão pelas belas artes, distinguindo-se na aguarela e no desenho a pastel, ganhando diversas medalhas e diplomas. O seu reinado foi marcado por acontecimentos que anunciavam o fim da monarquia, como o Ultimato Inglês, revoltas no ultramar e a revolução republicana.

Em meados de 1880, a princesa Maria Amélia ficou destinada a D. Carlos, o Duque de Bragança, o casamento funcionaria para unir as linhagens austríacas e espanhola. Ainda assim, ficaram relatos de que, D. Carlos dono de cabelos loiros encaracolados terá conquistado o coração de Amélia logo que a viu pela primeira vez. A jovem descrita como gentil e carismática, também terá feito os olhos do duque brilharem. Em pouco tempo, os dois ter-se-ão apaixonado, e o seu casamento terá sido feliz.

O rei D. Carlos I enfrentou diversas crises no seu reinado, lutou contra a insatisfação popular, Amélia fez um trabalho exemplar, com sua influência na corte portuguesa, a elegante monarca tentou erradicar a pobreza e a tuberculose. Mulher extremamente humana, chegando a assistir pobres e doentes nas suas próprias casas. Fundou a Assistência Nacional aos tuberculosos, que deu apoiou às classes necessitadas. A bondosa rainha procurou garantir a prosperidade desta grande obra de humanidade.

Na tragédia de 1 de Fevereiro de 1908, em que foram assassinados o rei D. Carlos I, e o príncipe real D. Luís Filipe, seu filho, terá ela tentado impedir a desgraça, tendo a coragem de se impor, mas infelizmente não conseguiu.

Citando o Padre José Correia da Cunha: “Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração.”

“A primeira referência ao Carnaval de Torres Vedras surgiu em 1574, através de uma queixa realizada por um morador de Torres Vedras, acerca de um grupo de mascarados que brincava ao “correr do galo” provocando uma briga.”

Será no entanto a partir de 1885 que novas referências surgem através do jornal local “(…)o carnaval passou-se sem animação e desengonçado, como nos anos anteriores. Poucas exibições, e essas representando-se sem espirito. No Domingo destacou-se apenas da sensaboria geral um grupo de mascarados, muito bem vestidos em carruagem, fazendo visitas.”.

Há excepção de pequenos grupos de mascarados que desfilavam em carruagem própria, durante alguns anos os festejos concentravam-se em casas particulares ou colectividades. O Grémio Artístico-Comercial e o Casino realizavam comédias, revistas teatrais e canções com base nesta quadra festiva.

Em 1908, apesar do assassinato de D. Carlos a 1 de Fevereiro, o Carnaval de Torres Vedras foi o mais animado e o mais político, atestando a influência dos republicanos na recuperação do carnaval de rua. Com o início da Republica a espontaneidade foi substituída por uma festividade de rua organizada, de caracter profano.

 “Assim se entende a popularidade do primeiro grande carnaval de rua organizado em Torres Vedras, pela mão dos republicanos, que substituíram a procissão das cinzas pelo Enterro do Entrudo, logo em 1912. Emergia uma nova festa cívica, porque invertia a ordem vigente por extensão a ordem anticlerical.”

A tradição dos Reis do Carnaval de Torres inicia-se em 1923. Após a chegada de comboio percorriam as ruas da vila num cortejo. Tradicionalmente o papel foi sempre assumido por dois homens, de “ sarcasticamente grandiloquente, adereces desconcertantes e pela sua afirmação como referencia a foliões”.

As famosas matrafonas, símbolo do Carnaval de Torres, surgem por volta de 1923 segundo testemunho oral. “Esses grupos, mais não eram do que indivíduos que vestiam um fato de mulher mas que não ficava bem a senhora nenhuma, procuravam era vestir um fato que lhes ficasse horrivelmente mal e feio. Inicialmente eram homens do campo com poucas posses para comprarem máscaras, pelo que recorriam às roupas velhas das mulheres lá de casa, usando caraças feitas com caixas de sapatos. As matrafonas persistem no Carnaval de Torres porque se tornaram num dos seus ícones mais fortes e actualizam a sua sátira. Não se confundindo nunca com um travesti, mas matrafonas ora satirizam alguns dos toques femininos mais vulgarizados, ora dão uma visão da mulher, nem sempre inocente e nunca isenta, na ótica masculina.”

“Carnaval de Torres – História e Identidade”; Micael José Henriques Paulo; ISCTE – Departamento de História; Mestrado – 2015

Carlos Guardado da Silva; Janeiro de 2012 in Revista Torres Vedras nº6

“O Rei-Sol Português”, em virtude do luxo de que se revestiu o seu reinado. Diz Veríssimo Serrão em «História de Portugal» que «era senhor de uma vasta cultura, bebida na infância com os padres Francisco da Cruz, João Seco e Luís Gonzaga, todos da Companhia de Jesus. Falava línguas, conhecia os autores clássicos e modernos, tinha boa cultura literária e científica e amava a música.»

O século XVIII foi um período de grande prosperidade nacional, em que se realizaram obras de grande envergadura por todo o país, nomeadamente o Aqueduto das Águas livres, o Convento de Mafra, entre outras. D. João V empreendeu um conjunto de transformações no Hospital Termal das Caldas da Rainha, das quais pouco restou do edifício primitivo.

A acção mecenática de D. João V foi muito marcada pela religiosidade e espírito de fé da sua época, revelada nas ofertas de arte sacra e objectos litúrgicos às Igrejas de todo o país, como se comprova na valiosa doação destinada à Igreja de Nª Senhora do Pópulo, feita em 14 de Agosto de 1742.

Em 1709 celebrou o seu casamento com D. Maria Ana de Áustria, mas o seu coração transbordava de muito amor, e segundo o historiador Oliveira Martins, “D. João V perdia a cabeça por todas as mulheres, mas a sua verdadeira paixão estava em Odivelas, no ninho da madre Paula”. A verdade é que nesse tempo a vocação era uma das últimas razões para que as mulheres dedicassem a sua vida a Deus, e as visitas aos conventos faziam parte da regra social. Madre Paula conheceu o primeiro amor de sua vida no convento, o conde de Vimioso, porém, foi com o rei português D. João V que ela viveu o seu caso mais avassalador e duradouro.

D. João V foi também amante da música e da literatura, o rei impulsionou diversos serões musicais e literários. Incentivou a vinda de autores estrangeiros, a compra de livros, a construção de bibliotecas e introduziu a ópera italiana em Portugal.

O rei fez ainda nos últimos anos de vida, mais doze jornadas às Caldas da Rainha, para convalescer e descansar. Mas gradualmente adoeceu cada vez mais. Em Julho de 1750 piorou, vindo a falecer em 31 de Julho de 1750, após mais de quarenta anos de governo. Ao morrer, o rei tinha a seu lado a rainha, o príncipe D. José. Foi sepultado no Panteão dos Braganças, ao lado da esposa, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.

A palavra Carnaval deriva do italiano carnevale e do francês carnaval, correspondendo à utilização e ao excesso do consumo de carne no período que antecede a Quaresma.

Com origem nas antigas tradições pré-cristãs relacionadas com a comemoração do final do inverno e início da primavera, com o conceito de regeneração de fertilidade e do retorno da abundância alimentar, mais escassa no inverno, os festejos carnavalescos encontram desde cedo aceitação.

A própria palavra Entrudo deriva do latim Introitu (ato de entrar, começo), e caracteriza-se pela época que antecede a Quaresma, ou seja o Carnaval. O tradicional Enterro do Entrudo, realizado na quarta-feira de cinzas, caracterizava-se por uma “(…)procissão onde foliões carregavam um caixão aos ombros, iluminado pela luz de archotes, percorrendo as ruas e terminando com o queimar do caixão, simbolizando o fogo a purificação dos penitentes perante os pecados do Entrudo.”

Também a Serração da Velha, cuja referência mais antiga da sua realização em Portugal data de 1685, marcava este período. “Numa paródia de gente nova, em época de defeso lúdico, para serrar cada velho, como campo ou na cidade. Pela calada da noite, um grupo de embuçados rouquejava, à porta das casas sentenciadas, paródias testamentárias do locatário idoso, enquanto o serrote percutia num bocado de madeira ou cortiça o seu lúgubre ranger, acompanhando o atroar dos guizos, ferros, latas, cântaros.”

A celebração do Carnaval é já referenciada no Egipto pelas festividades dedicadas a Ísis e ao boi Ápis. Também os Gregos consagravam ao Deus Dionísio, Deus da Vitalidade, danças frenéticas e outras cerimónias durante o inverno. Em Atenas celebravam diversos festejos durante o inverno, sendo que o mais antigo seria em finais de Fevereiro e decorria durante três dias nos quais se provavam os vinhos do outono anterior e se fazia o culto aos mortos. Os Romandos, honrando Saturno, protector da agricultura e das sementeiras, promoviam divertimentos públicos.

Mais tarde o Carnaval constituir-se-ia como uma festividade de contestação à ordem social feudal, tendo no final da Idade Média, sido assimilado pela realeza como forma de organizar a sociedade.

Passou o Carnaval a caracterizar-se por um “cortejo alegórico onde eram criticados os grupos contestatários da centralização do poder, alto-clero, classe senhorial e a representação de épocas históricas relacionadas com a monarquia.”

Em Portugal no século XIII o Entrudo era festejado durante três dias, caracterizando-se, segundo Carlos Guardado da Silva, “por uma folia espontânea tratando-se de uma festa popular resultante de comportamentos espontâneos onde se lançavam pelas ruas baldes de água, ovos, laranjas, farelos entre outros produtos”.

A partir do século XVI aparecem as primeiras referências a Carnaval, associando-se às festas romanas instituídas pelos Cristianismo, que tinham início no dia de Reis e terminavam na quarta-feira de cinzas. “ A sua origem parece advir do latim medieval carnelevãre, véspera de Quarta-feira de Cinzas, dia em que se iniciava a abstenção da carne. Uma alusão ao dia em que, anualmente, o sacerdote colocava as cinzas resultantes da queima das palmas bentas do ano anterior sobre a cabeça das fiéis (…) idênticas às cinzas que resultariam da queima do Entrudo, o Carnaval personificado, num rito purificador de retorno à ordem social e religiosa quotidiana. As mesmas cinzas a que seria votado, mais tarde, o Rei do Carnaval, aquele que melhor encarna o espirito carnavalesco.” Carlos Guardado da Silva

Mais tarde, os festejos carnavalescos assumirão outra dimensão com o Renascimento Italiano, surgindo a tendência da utilização de máscaras em público pelos séculos XV e XVI.

Esta nova dimensão de luxo e fantasia assumirá durante o século XVIII, a influência das cortes absolutistas de Luís XIV e XV. D João V que, em Portugal, utilizará o Carnaval como forma de contraste entre o luxo vivido na corte em oposição ao Carnaval de rua marcadamente popular, desordeiro e violento.

A utilização de máscaras, tradicionalmente feitas de madeira, couro, lata ou cortiça, seriam semelhantes à do teatro grego simbolizando a transformação do individuo que as utilizava.

Em 1809 realiza-se o primeiro baile de máscaras público autorizado. Marcando a distinção entre o Carnaval de rua desordeiro, com os bailes das novas classes dirigentes, burgueses, ou ainda os bailes privados pela nobreza liberal.

Com o começo da República o Carnaval passará a assumir uma crítica irónica, tendo como finalidade o humor satírico e a diversão. Surgem as figuras dos Reis do Carnaval, incitando estes as festividades e acabando por ser ridicularizados pelos seus hábitos protocolares.

Muitas foram as formas de festejar o Carnaval ao longo dos tempos. Pintar paredes fazendo alusão à vida íntima das pessoas. Atirar “caqueiradas” (terra, cinza, pedras, cascas de laranjas, etc.) através das janelas e portas mal fechadas; atirar pedras quentes para escaldar as mãos de quem as tentava apanhar; entre muitas outras: doces fingidos, cartuxos de goma no cabelo, centopeias de cera, cartas anónimas, etc.

As tradicionais batalhas de flores surgem em Lisboa no final do século XIX.

As festividades carnavalescas derivam da tradição popular e rural portuguesa. Na região Alentejana, o Carnaval iniciava-se no dia 20 de Janeiro (dia 20 de São Sebastião), na Ericeira, Vila Franca de Xira e Alenquer iniciava-se no dia 22 de Janeiro (dia de São Vicente).

“Carnaval de Torres – História e Identidade”; Micael José Henriques Paulo; ISCTE – Departamento de História; Mestrado – 2015

Carlos Guardado da Silva; Janeiro de 2012 in Revista Torres Vedras nº6

 “Aquela Rainha, tão portuguesa, e é a mais nobre personificação do amor ao próximo.” O escritor/jornalistaJúlio Castilho louvou a Rainha D. Leonor, pelas suas obras e pela sua bondade e preocupação em fazer o bem.

A rainha D. Leonor assumiu-se desde cedo como uma figura de destaque entre as rainhas portuguesa. Alguns historiadores chamaram-lhe a “Princesa Perfeitíssima”, pela prática constante da misericórdia e mais virtudes cristãs.

Ao nascer, foi destinada a João II de Portugal – o “Príncipe Perfeito” – por vontade e promessa de seu tio Afonso V. Casou com o primo direito a 22 de Janeiro de 1470 quando tinha apenas 12 anos de idade, e o noivo 15. O seu casamento com D. João II esteve envolto de muitas questões complexas, para além da infidelidade do rei, muitas foram as tragédias que abalaram a rainha, desde contendas familiares, onde se atestou o envolvimento do marido no assassínio do seu irmão, e execução do seu cunhado.

Outro acontecimento terrível foi a morte de seu filho, numa queda de cavalo junto ao rio, sem dúvida acontecimentos cruéis na vida desta rainha, que ainda assim não deixou de ser uma das mais notáveis soberanas portuguesas de todos os tempos pela sua vida, importância, influência, obra e legado deixado às gerações futuras.

O seu amor e bondade para com os indigentes e enfermos, conjugado com outros factores, terá conduzido à fundação do Hospital de Nossa Senhora do Pópulo, que surgiu associado a um movimento de reformulação de assistência ao pobres e doentes do país, e o que de acordo com alguns historiadores terá funcionado como ensaio para aquela que viria a ser uma das suas maiores obras – as misericórdias.

As artes podem ser consideradas outra das paixões da rainha, nesta área promoveu a importação de obras de arte e dirigiu inúmeras encomendas a mestres e autores portugueses na pintura, escultura, arquitectura e literatura. O seu envolvimento na promoção cultural traduziu-se ainda na protecção concedida a Gil Vicente e Damião de Góis.

A Rainha D. Leonor faleceu no seu Paço de Xabregas, nos arredores de Lisboa, junto ao convento do mesmo nome. Quis ficar sepultada no seu magnífico Convento da Madre de Deus, em campa rasa de pedra, num lugar de passagem para que todos a pisassem, gesto que demonstra a grande humildade da rainha, e que emociona. No fundo quis a monarca que o seu gesto mostrasse aos que por ali viessem a passar, o sinal da pequenez das coisas do mundo diante da eternidade.

Celebramos este mês o amor, com um dia dedicado aos apaixonados, 14 de Fevereiro,  Dia dos Namorados ou dia de S. Valentim. A Igreja Católica reconhece pelo menos três santos com o nome de Valentim, todos martirizados pela Roma Antiga, e não se sabe ao certo qual desses será o “responsável” pela história que deu origem à lenda que conduziu à celebração do dia dos Namorados. São várias as versões sobre o surgimento desta data.

Uma das hipóteses remonta ao século séc. III, o Imperador Cláudio II, com o intuito de formar um poderoso exército romano, teria decidido impedir provisoriamente a celebração de casamentos para garantir que os jovens solteiros se concentravam exclusivamente na guerra e na vida militar sem outras distracções. Ainda assim, o bispo Valentim terá contrariado essas ordens continuando a realizar casamentos. O Imperador descobriu e Valentim acabou preso e condenado à morte. De acordo com a lenda, até à data da execução, foi recebendo flores e bilhetes que demonstravam apoio pela sua atitude, o que poderá explicar a troca de postais e presentes a que assistimos actualmente.

Durante o período em que esteve preso, conta a lenda que o bispo se apaixonou pela filha cega de um dos guardas, e que, quando ela o foi visitar, mal se aproximou dele milagrosamente recuperou a visão. Numa carta escrita à sua amada, o bispo despediu-se utilizando a expressão “do teu Valentim”, que ainda é usada na língua inglesa, “valentine“, para designar namorado.

Mas esta história não tem um final feliz: ainda segundo a lenda, a ordem de execução dada por Cláudio foi cumprida e Valentim acabaria por ser decapitado num 14 de Fevereiro de finais dos anos 200 (séc. III). O bispo Valentim foi considerado mártir pela Igreja Católica, ainda que devido à indefinição e à falta de factos históricos comprovados para além de qualquer dúvida, a Igreja não celebre oficialmente este dia.

Na Idade Média dizia-se que o 14 de Fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros. Por esse motivo, os namorados desses tempos utilizavam a ocasião para deixar mensagens de amor na porta do seu amado.

Independentemente das versões e lendas associadas, o Dia dos Namorados ou Dia de São Valentim é comemorado um pouco por todo o mundo. Neste dia é demonstrado o carinho, amor e reconhecimento entre casais. As imagens que se associam a este festejo são de corações e de cúpidos, sendo a cor predominante o vermelho e as flores magistrais, as rosas.