Agosto 2022



Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha
Sr. Victor Marques

Celebram-se a 26 de agosto os 95 anos de elevação das Caldas da Rainha a cidade, corria o ano de 1927, num processo que evidencia a importância da participação ativa e cidadania, protagonizada por cidadãos e entidades que partilhavam entre si uma dinâmica vontade de progresso e modernização urbanística.A elevação das Caldas da Rainha a cidade afirma-se como o culminar de um percurso secular que se construiu em torno do Hospital Termal e das dinâmicas económicas, sociais e culturais que daí advieram, hoje História e identidade de todos os caldenses.Naquele início de século, viviam-se tempos de rutura e instabilidade política, que, ainda assim, não condicionaram a vontade e mobilização das forças vivas que conduziram à passagem de Caldas de vila a cidade, organizando-se em movimentos e iniciativas que pretendiam atrair as atenções do governo central, para o papel preponderante das Caldas da Rainha, a nível do distrito de Leiria, mas também no contexto nacional.Com um crescimento demográfico considerável, no século XIX, a economia local baseava-se predominantemente na saúde, pelo Hospital Termal, e no comércio, eixos fundamentais para o desenvolvimento económico da cidade. A juntar-se a estes setores, a agricultura que, numa visão inovadora se associava já à indústria e maquinaria, nomeadamente com a dinamização de exposições dedicadas ao setor, na década de 20 do século passado, como forma de trazer novas dinâmicas económicas e comerciais ao Concelho.A par do contexto politico e económico, aqui brevemente abordados, importa referir que quando falamos de Caldas da Rainha, falamos inevitavelmente de cultura e arte, domínios que se revelaram determinantes para a elevação a cidade, destacando-se o contributo da cerâmica, pintura e escultura, tornadas faces visíveis dos esforços de enriquecimento dos espaços públicos, fruto de uma visão urbanística que pretendia corresponder aos elevados desígnios de cidade termal e cultural, idealizada por dois nomes maiores da arquitetura – Rodrigo Berquó e Paulino Montês – que, entre finais do século XIX e princípios do século XX, desempenharam preponderantes papéis na cidade que reconhecemos até aos dias de hoje.Por tudo isto, percebemos que o momento exemplar da elevação das Caldas da Rainha, pelo movimento de cidadania implicado – e que deixaria importantes bases na vida política e social da cidade -, pelas ambições de desenvolvimento social, urbano e económico – eixos que exigem atenção e trabalho contínuo, por isso foco constante das políticas municipais – e pelo papel da cultura e artes, testemunho de uma relação próxima com a cidade, desde os tempos da fundação – presentemente sob novo impulso, pelo desígnio de Cidade Criatividade – não se esgota na efemeridade da data, devendo sim, ser motivo de celebração e reconhecimento diário.De referir ainda que vivemos hoje um novo momento para a cidade, resultado da profunda reconfiguração do complexo termal que vai muito além da imperativa requalificação das infraestruturas, constituindo-se como um amplo Plano de Intervenção Municipal para a Área Termal e Zona Envolvente, transversal aos domínios da saúde e bem estar, cultura, turismo, sustentabilidade, urbanismo e mobilidade, aspetos fundamentais do projeto termal que se pretende instituir na cidade, assim honrando e dando continuidade à ação iniciada pela Rainha D. Leonor.

Victor Marques – Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha

É pelo decreto-lei de 26 de Novembro de 1926, que entrou em vigor em Agosto de 1927, que se oficializa a categoria de cidade, Caldas da Rainha. Considerando que a, até então, vila das Caldas da Rainha, “graças à actividade dos seus habitantes, graças às excelências das suas termas, adquiriu um desenvolvimento que bem justifica a sua elevação”.

Nicolau Borges, numa exposição sobre o tema por ocasião das comemorações desta efeméride, considera que a atribuição “deve-se a uma estratégia bem planeada e executada de grandes elites da época, que lutaram por uma cidade que podia competir, do ponto de vista económico, turístico e cultural com outras cidades, afirmando-se assim uma nova centralidade a nascer entre Lisboa e Coimbra”.

Este movimento de desenvolvimento, incrementado no segundo quartel do século XX, é iniciado após a diminuição da afluência de veraneantes às termas, obrigando a vila a perspectivar outros caminhos para o desenvolvimento económico.

Nicolau Borges aponta “fatos históricos que levaram a este reconhecimento, como o relatório de 1916, do 1º orçamento suplementar do hospital termal, que concluiu: “O conflito europeu veio afectar a economia do Hospital Termal, pelo encarecimento dos géneros alimentícios, combustível, material e aparelhos de ferro, cobre, etc., quase todos de proveniência estrangeira, recomendando-se que no novo regime orgânico do Hospital se considere a separação entre hospital e balneário, devendo este ser dado de exploração à iniciativa privada”.

Neste mesmo ano é criada uma comissão para estudar as bases segundo as quais se efectivará o arrendamento do balneário e suas dependências, propondo-se a entrega do Hospital de Santo Isidoro à Câmara Municipal. As elites da época afirmavam que para a modernidade e urbanidade caldense havia necessidade de uma intervenção das infra-estruturas urbanas, nomeadamente, água canalizada, rede telefónica, melhoria do fornecimento de energia eléctrica e iluminação pública, pavimentação de ruas e integração urbana, tal como a existência de novos conceitos urbanos como igreja e liceu.”

A modernização dos equipamentos, nomeadamente a modernização do hospital, do parque e da mata, criação de um museu das artes, instalação dos correios em edifício próprio e novas instalações para a sede da Câmara Municipal e outras repartições, bem como o desassoreamento da Lagoa de Óbidos e conservação da praia da Foz do Arelho, já eram na altura pontos fundamentais e estruturantes para as Caldas da Rainha.

Cria-se o Laboratório Municipal em 1924, a Misericórdia das Caldas, a Comissão de Iniciativa e Turismo. Caldas é promovida a cidade em 1927, sendo apresentado um novo Plano de Urbanização. Em 1940 surgiram novos edifícios, para os correios e para a Caixa de Crédito Agrícola, a garagem Capristanos em 1949 e em 1950 inicia-se a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, começando a surgir a nova praça do Município e uma nova centralidade.

A informação demográfica das Caldas da Rainha antes e após a elevação a cidade é notória, sendo que passou de 6 837 habitantes em 1920 para 9 632 habitantes em 1940.

Museu do Hospital e das Caldas