Julho 2021


O museu é um farol da consciência social, um historiador do futuro, uma muralha contra a escuridão e o desespero, e um templo de elevação do homem, e por isso, um museu precisa de dialogar com a sociedade”. Postman (1989)           

A citação de Postman é um bom ponto de partida para a reflexão do museu enquanto instituição ligada à Comunidade. O museu é antes de mais um espaço onde se contam histórias, onde através do estudo, e da investigação se procura conhecer um passado, que se aprende a respeitar e preservar. Falar de museu, é falar da construção de uma identidade cultural, que só será possível se as instituições museológicas cumprirem a sua função social e pedagógica. Neste sentido, será necessário estabelecer com a comunidade uma relação, tal como diz Postman, “um museu precisa de dialogar com a sociedade”, e através deste diálogo, estabelecer objectivos e metas, trocar experiências, que em conjunto conduzirão à reflexão e ao conhecimento.

O estabelecimento deste diálogo compreende várias etapas, as visitas guiadas pelo património do CHO, destinadas à comunidade em geral, e também às escolas, são um dos diversos exemplos que testemunham o desempenho do papel social e educativo do museu. A tarefa não se apresenta como fácil ou simples, e são diversos os obstáculos que vão surgindo, como o desconhecimento inicialmente verificado por parte da comunidade caldense, relativamente à existência do Museu do Hospital e das Caldas. Primeiramente, a tentativa para alterar esta situação foi a divulgação do Museu através da imprensa regional, onde foram apresentadas algumas das actividades que começaram a ser desenvolvidas pelo museu, nomeadamente a realização de exposições temporárias e outros eventos temáticos.

Uma outra forma de difusão do museu foi através das escolas da região, com as quais estabelecemos um contacto mais próximo, tendo obtido uma resposta surpreendente da parte das mesmas. Comprovámos que as medidas trouxeram resultados extremamente positivos, sendo que as escolas do 1º ciclo (nomeadamente 3º e 4º ano) tornaram-se visitantes regulares ao museu, com intuito de conhecer melhor o passado do meio em que vivem. A cada ano passado, verificou-se um aumento das escolas que visitaram o museu, e que realizaram as actividades que foram disponibilizadas.

Ao longo dos anos tem sido uma preocupação constante do museu, o desenvolvimento de actividades que se adaptem aos vários tipos de público, e que estimulem e despertem o interesse no património e história da cidade de Caldas da Rainha. No que toca aos mais pequenos por exemplo: realizámos o Pedddy Paper, para descobrirem o museu, as actividades de férias escolares (atelier de fantoches, atelier de ciência viva…), realizadas no museu, entre outras dinâmicas de grupo disponibilizadas ao longo do ano lectivo, geradas como complemento das visitas guiadas (se eu fosse rainha/rei; se eu fosse uma gotinha de água termal…). Os projectos desenvolvidos pelos Serviços Educativos do museu permitiram estabelecer uma relação de proximidade com o seu público mais jovem, no sentido de educar e, facultar a esse público os instrumentos necessários para crescerem e se conhecerem a si próprios, porque só assim, poderão de forma crítica e criativa construir a sua identidade cultural.

O Museu do Hospital e das Caldas procurou continuar a dialogar com a sua comunidade, estabelecer uma interacção permanente com o seu público, de forma a possibilitar uma participação activa de todos. A concretização deste ideal passa pela preocupação constante de divulgar e desenvolver novos projectos, tais como os que são disponibilizados pelos Serviços Educativos do museu. 

Paralelamente a esta preocupação de estimular os mais jovens, no que toca à valorização e preservação do património, através do reconhecimento da sua importância, surge também a necessidade de motivar a restante comunidade e envolvê-la no espaço e nas acções museológicas. A realização de exposições temporárias diversas, com temáticas relacionadas com o Hospital Termal, com a cidade e sua evolução ao longo dos tempos, o convite para visitas temáticas, realização de conferências, espectáculos entre outros, foram propostas sistematicamente disponibilizadas pelo museu e dirigidas ao público em geral que tivesse o desejo de conhecer um pouco mais sobre a história e património das Caldas da Rainha. No intuito de que se envolvessem as famílias, e que as várias gerações se tornassem participantes activos e em interacção.

As reacções a este tipo de iniciativas desenvolvidas pelo museu, foram sempre muito positivas, o público interveniente procura demonstrar o seu agradado, sendo a opinião dos visitantes unânime relativamente ao interesse das visitas realizadas, e à importância das mesmas para um melhor conhecimento das Caldas da Rainha e suas origens, de tal forma que expressam a necessidade prosseguimento destes e a realização de novos projectos.

Numa fase como a que estamos a viver, com todas as implicações e impacto que tem causado em todas as áreas, não podemos resignar, é necessário reflectir e perspectivar o futuro, mantendo a resiliência. O Museu do Hospital e das Caldas mantem o seu propósito, continuar a sua missão, cumprindo as suas funções social e pedagógica, sendo para isso essencial estabelecer o intercâmbio com a sua comunidade, assumindo-se como espaço onde se ensina, mas onde também se aprende, porque só tendo como base esta relação podemos ser um museu dinâmico e vivo, que acompanha a sua comunidade na construção/reconstrução da sua identidade cultural. Um museu que conta histórias de um passado e que nos prepara para construirmos a história do futuro, tal como diz Postman o museu é também “um historiador do futuro, uma muralha contra a escuridão e o desespero…”.

A educação patrimonial é uma metodologia que procura criar conhecimento através dos bens culturais, objectivando a valorização da história de cada individuo por extensão à sua história local, a par da identificação, valorização e consequente conservação sustentada do património no geral.

Trata-se assim de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional, centrado no património cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e colectivo.

Olhar criticamente, aplicando a educação patrimonial na sua paisagem quotidiana como um objecto de estudo, é estar sensível ao facto de que assim se sintetizam propostas de intervenções sociais, politicas, económicas, culturais, tecnológicas e naturais, de diferentes épocas, num diálogo entre tempos, partindo do presente. “

Moema Nascimento Queiroz

Objectiva-se desenvolver nos educandos uma análise crítica do seu contexto histórico-social, fortalecendo consciência do seu papel na sociedade, potenciando a sua participação cívica através da apropriação e responsabilização pelo património.

Por recursos culturais e patrimoniais do território, da comunidade e dos seus membros entendem-se: estruturas, pessoas, saberes, bens patrimoniais materiais e imateriais. Assumindo-se desta forma como como suporte, pretexto e matéria-prima para a pedagogia desejada.

Por estruturas entende-se potenciais locais de actuação como museus, bibliotecas, centros culturais, associações, monumentos, espaços de exterior, entre outros. Através das pessoas retemos memórias, experiências, competências diversas, motivações sociais ou outras que as tornem, acima de tudo, disponíveis na participação e partilha.

Os bens patrimoniais materiais e imateriais permitem a observação, o contacto, o conhecimento do meio, a análise, a aprendizagem e identidade. Remetem-nos para memórias, tradições e costumes, apelando à sensibilidade e sentimentos que ilustram diferenças entre pessoas e grupos, permitindo o fortalecimento de identidades e o respeito pela diversidade, contribuindo assim para o desenvolvimento de espirito de tolerância e de valorização sobre a multiplicidade de formas e expressões, em que a cultura se manifesta.

É na experiencia com os bens patrimoniais que reside o principio básico da educação patrimonial. A partir desse contacto capacitamo-nos para um melhor usufruto desses bens, para a sua compreensão, conduzindo à concepção de novos conhecimentos.

De forma consequente, o conhecimento crítico leva à apropriação consciente por parte do individuo do seu património e, em última instância, à sua responsabilização.

O conhecimento, a apropriação e responsabilização assumem-se desta forma como factores indispensáveis, por um lado ao fortalecimento dos sentimentos de identidade e de cidadania e, por outro, na preservação sustentável dos bens patrimoniais.

Temos assim a educação patrimonial como instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao individuo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da história em que está inserido, potenciando a auto-estima e a valorização da cultura.

O papel social dos museus é no presente focado numa relação entre museu/público, não apenas aquele que contempla, mas assumindo-se antes como uma relação de partilha de saberes e experiencias entre ambas as partes. Aqui reside a base do papel educativo do museu, que assenta no processo reflexivo provocado em cada visita, através da aquisição de conhecimento, e na valorização de uma interacção onde o educando será preponderante, tal como o educador.

Dora Mendes