Novembro 2022


A exposição esteve patente ao público no mês de Outubro, mostrando os trabalhos realizados pêlos Utentes do Departamento de Psiquiatria e Saúde Metal do Centro Hospitalar do Oeste, coordenado por Vera Gonçalves.

Este projecto teve a particularidade de dar ênfase à Liberdade de Expressão com a cor através do ato de pintar. Como objectivo, o Workshop, pretendeu mesclar a arquitectura da Cidade de Caldas da Rainha com imagens abstractas com que os participantes mais se identificassem.

Recriando de forma livre e abstracta, este exercício demandou uma busca de identidade dos participantes através de imagens impressas e da cor.

Para cada participante, a obra resultante será como um PASSAPORTE identitário de uma visita onde o seu emocional transpareça, a fim de transmitir o que sentiu e por onde andou.

Ficha Técnica

Autoria: Utentes do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar do Oeste

Orientação do Workshop: Vera Gonçalves /ESAD.CR

Curadoria: Célia Bragança /ESAD.CR

Produção: IPLeiria/ESAD.CR, Centro Hospitalar do Oeste, Liga dos Amigos do Hospital de Caldas da Rainha, Museu do Hospital e das Caldas

Comunicação: Paulo Gosta/ESAD.CR, Vera Gonçalves/ESAD.CR

Realização: Oficinas de Serigrafia e Gravura da ESAD.CR

O Dia Internacional da Saúde Mental, celebrado a 10 de Outubro de 2022, oferece a oportunidade de chamar a atenção para uma área muitas vezes descurada e negligenciada do nosso bem-estar, dá-nos a oportunidade de reflectir sobre a forma como podemos melhorar a nossa própria saúde e ir ao encontro dos outros.

Por outro lado, o estigma em relação à doença mental torna difícil falar sobre o tema, constrange a procura de ajuda e chega a afetar a capacidade de reconhecimento quando a doença mental está presente. Coma lente do estigma, as pessoas com um diagnóstico de doença mental podem ser vistas como dependentes, não confiáveis e até preguiçosas.

Desde os anos 60s que artistas e organizadores de arte se ligaram ao conceito de “arte comunitária” com o desenvolvimento de projectos de inclusão. A arte permite a expressão de valores sociais e individuais, pode comunicar um propósito moral ou educacional, e explicar a experiência emocional ou racional do mundo de alguém.

Visto de outra forma, quem se expressa pela arte pode sentir-se melhor consigo mesmo e com o mundo. A arte pode ser um meio para a manifestação emocional, um veículo de elaboração e ensaio do processo criativo. A experiência artística pode intensificar a expressão de vivências, assim como a reconfiguração consciencializada de representações inconscientes e de afetos ligados ao sensorial.

A arte pode curar quem a gera e quem a vê.

Catarina de Jesus



Uma Introdução

André Ribeiro Lopes nasceu em 1993 nas Caldas da Rainha, onde atualmente vive e trabalha. Em 2015 concluiu a licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, e ingressou no mesmo ano no Mestrado em Artes Plásticas com o respetivo término em 2017. Desde então, o André tem trabalhado de forma autodidata, tendo sempre mantido a sua atividade artística nesta exploração de diálogo contínuo que a arte contemporânea dispõe.Presentemente o seu trabalho desenvolve-se em torno de estímulos instintivos inerentes ao homem e à prática artística. Entre estes dedica especial importância ao gesto livre e deliberado, às cores e à composição que o emaranhado de forma delimita nas superfícies de trabalho. O artista dá primazia à vitalidade do trabalho, procurando um momento final (e/ou inicial) de forças entre o que está representado sobre as superfícies e as características que o trabalho abarca enquanto matéria agida.A atual exposição é um aglomerado de trabalhos que exploram o fascínio da mente no que toca ao pensamento como meio de atingir um fim material – uma realidade que será devolvida após a sua criação no universo da fantasia – este interesse surge no André devido a problemas de saúde que não se manifestam claramente, conduzindo assim o artista a procurar a sua própria forma de cura. O trabalho em desenho assume-se como forma de materializar em imagens estas ideias que lhe pareciam cada vez mais concretas. E enquanto trabalhava, curava.O artista opta frequentemente por fazer do próprio exercício de expor também ele um exercício de construção e criação alinhando e interligando imagens, (neste caso todas criadas pelo autor) numa proximidade que por vezes assume uma óptica curaturial. O autor pretende desta maneira, criar através da disposição, um espaço neutro para que cada espectador possa ter uma experiência individual fortuita.André Lopes, tal como o presente texto complementar propõe, refere que esta é apenas uma das possíveis introduções ao seu trabalho e cita que este desprovém de qualquer intuito intelectual de glorificar o seu trabalho. O autor sublinha que o seu interesse é acima de tudo debruçado sobre a produção das imagens que cria e defende que as mesmas devem conter as características de valor implícitas, e deste modo autenticarem-se como imagens de interesse plástico per se

“Acontecem coisas, mas elas não são definitivamente incluídas ou decididamente excluídas; andamos à deriva. Rendemo-nos de acordo com pressões externas, ou evadimo-nos e comprometemo-nos. Existem começos e cessações mas não existem genuínos inícios e conclusões.”

Dewey, J.(1934). Having an Experience (Tradução Fernando Poeiras). Em Art as Experience. New York: Minton, Balch & Company, p.40-41