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 Um pouco de História… 

Na região das Caldas da Rainha, a presença humana tem raízes longínquas, foi habitada pelos romanos, que deixaram as suas marcas e exploraram as águas sulfurosas existentes. As invasões bárbaras e as batalhas travadas com os romanos terão levado à ruína desses banhos.  As nascentes onde foi erguido o Hospital Termal das Caldas da Rainha eram conhecidas no século XIII e tinham a designação de caldas de Óbidos, freqüentadas por leprosos e doentes de “frialdades” (reumatismo), que buscavam nestas águas a cura para os seus males. Nesta altura existiria a ordem beneditina de Santa Maria de Rocamador, que dava assistência aos pobres e necessitados. No século XV e apesar dos esforços desenvolvidos por D. Afonso V, não foi possível evitar a decadência estrutural em que entraram as caldas de Óbidos, após a extinção da referida ordem.   A rainha D. Leonor, mulher de D. João II, e detentora do senhorio das terras de Óbidos desde 1482, vai proceder à instituição, daquele que seria o primeiro Hospital Termal do mundo. As versões dos factos que terão levado a rainha a mandar construir o hospital, não são unânimes. Por um lado defende-se que no ano de 1484 a rainha, quando seguia para a Batalha para se encontrar com o rei, teria passado num local onde viu pobres a banharem-se numas águas das quais saía fumo. A falta de condições a que estavam sujeitos os pobres que ali se deslocavam, terão sensibilizado a rainha, e conduzido a essa decisão. Uma outra versão refere que a rainha estaria doente em Almeirim, tendo os seus médicos aconselhado o tratamento naquelas águas. A rainha terá ordenado a construção de um tanque e depois de ter comprovado os excelentes resultados, prometeu elevar o hospital. 

Independentemente das versões existentes, é certo que esta obra foi fundada pela vontade expressa da rainha. A fundação do Hospital Termal das Caldas da Rainha surge associada a um movimento de reformulação da assistência aos pobres e doentes do país, não podendo no entanto, esquecer a preocupação de cariz político, verificada a nível nacional de centralização do poder régio, tratando-se neste caso específico de travar a expansão territorial dos monges de Alcobaça. Em 1485 iniciam-se as primeiras obras, que permitiram criar melhores condições (banhos e aposentos) aos doentes que ali se dirigiam. Só em 1488, se iniciaram as verdadeiras obras de um hospital e da sua igreja anexa, ambos dedicados a Nossa Senhora do Pópulo. Sob o impulso da rainha, com o apoio dos monarcas D. João II e D. Manuel, surge, na transição do século XV para o século XVI, uma instituição original e única no seu gênero – um estabelecimento hospitalar, dedicado ao tratamento de doenças por via termal, aproveitando as águas que brotavam do solo. O surgimento desta instituição assistencial deu origem a uma nova povoação – as Caldas da Rainha, a que D. Manuel concedeu o título de vila em 1511, a pedido da rainha D. Leonor, sua irmã. A necessidade de criar um núcleo, de forma a dar aos enfermos tudo o que necessitavam, foi uma das preocupações da rainha, já que, em 1488, D. João II em carta régia concede privilégios e liberdades a todos os que viessem morar para as Caldas. A construção do hospital e da igreja exigiu da instituidora um elevado investimento, sendo esta obrigada a vender as suas jóias para poder adquirir móveis, utensílios, roupas e outros objectos. Para garantir a sustentabilidade da instituição, fez doação ao hospital e se seus provedores de todas as jugadas, oitavos, rendas, direitos e foros das vilas de Óbidos, Aldeia Galega e Merciana. 

O apoio da igreja foi também importante. Recorrendo a apoios, ao mais alto nível, a autorizações para a construção da igreja e apelo a Bulas Pontifícias de modo a permitir a realização das obras, destacando-se a figura do Cardeal Alpedrinha, confessor da rainha, que muita influência exerceu em Roma junto do Papa. As obras terão decorrido em diversas fases, quer pela extensão do projecto, quer pela falta de verbas. Em 1490 a igreja e o hospital já estariam em pleno exercício, sendo o último constituído por 2 pisos. Ao nível da igreja situavam-se as enfermarias dos doentes acamados, para poderem assistir às missas realizadas na igreja, que ligava directamente ao hospital, era também este o piso dos banhos. No piso superior encontravam-se as restantes enfermarias num total de 110 camas, das quais 70 se destinavam aos doentes pobres. O período de abertura para tratamentos decorria desde o dia 1 de Abril até ao último dia de Setembro, e todos os anos no primeiro dia era lido o Compromisso – datado de 1512, reunia um conjunto de normas, que a rainha terá instituído para garantir o bom funcionamento do “seu” hospital. Ao longo do século XVI o hospital consolidou-se como grande instituição de saúde e assistência, apresentando uma gestão bastante complexa, devido à diversidade de serviços que estava obrigada a prestar. Em 1532, D. João III entrega a administração do hospital à Congregação de S. João Evangelista, sob a fiscalização da Mesa da Consciência e Ordens. 

O hospital foi alvo de várias intervenções por parte dos diversos monarcas, sendo a partir dos finais do século XVII, por acção de D. João IV, D. Pedro III e D. João V, já no século XVIII, que se reatou o interesse da coroa pelas Caldas. D. João V realizou tratamentos termais com assiduidade. Entre 1742 e 1748 deslocou-se às Caldas da Rainha treze vezes, a sua estadia prolongou-se, e as obras que deixou testemunharam o seu interesse pelas termas e sua preocupação em modernizar a vila. Da reforma iniciada pelo rei ficou encarregado Manuel da Maia, o Engenheiro-Mor do reino e Eugénio dos Santos. As obras iniciaram em 1747, seguindo o plano das novas instalações para o hospital e município, que incluía uma rede de abastecimento de água da vila. Destas obras resultou a destruição do primitivo edifício construído por acção mecenática da rainha fundadora, caracterizando-se o novo por uma maior funcionalidade. Por este conjunto de obras empreendidas por D. João V, se refere a História como o período da Refundação das Caldas. O século XIX foi um período marcante, recheado de grandes acontecimentos para a história das termas caldenses. As visitas da realeza tornam-se constantes, desencadeando um movimento de renovação e reflorescimento das termas caldenses. Frequentar a vila das Caldas e os seus banhos termais tornou-se moda social. Mais do que permitir o tratamento físico, estas termas permitiam alcançar o bem-estar psicológico, e para isso foram criados espaços de lazer onde se pudesse passear, ler, etc; no fundo tornam-se espaços de convívio social, nomeadamente no chamado Passeio da Copa. Este ideal foi cultivado por uma figura de destaque, Rodrigo Maria Berquó, administrador do hospital que procurou pôr em prática os seus planos para colocar as Caldas da Rainha a par com as grandes estâncias balneares do estrangeiro.  As suas idéias geraram a polémica no seio da sociedade caldense e lutas constantes com as elites locais, só interrompidas pela sua morte, a qual não lhe permitiu concretizar o seu sonho, deixando inacabado o seu projecto para as termas das Caldas da Rainha. Apesar de todos os obstáculos, muito foi aquilo que nos deixou e que ainda hoje podemos contemplar na cidade das Caldas. A sua passagem pelas Caldas, merece destaque pelas propostas apresentadas e realizadas. Hoje o património que se manteve ao longo de mais de cinco séculos e que acompanhou a evolução desta instituição, está sob a administração do Centro Hospitalar de Caldas da Rainha, Ministério da Saúde. O Museu do Hospital e das Caldas com um variado espólio cultural e tecnológico, retrata a história do hospital termal caldense, contida nas diversas igrejas, parque, mata, entre muitos outros edifícios que fazem parte deste conjunto. A sua preservação é uma das preocupações desta administração. Importa hoje preservar este património, para manter a história de um passado que é presente, que nos conta quem fomos para saber quem somos. 

5 Respostas to “Hospital de Nossa Senhora do Pópulo”

  1. miguel Says:

    está uma história bem contada… e a parte do fim… aquela diz que se tem que perservar…. acho muito bem… porque o património portugues “é de tds nós”! e temos que perservar palo que é “nosso”… só é pena muitoas das pessoas ricas… que teem dinheiro para dar e vender, não colaborem como os reis e rainhas fizeram no pasado!!!

  2. neuza Says:

    nao sou das caldas e vim a esta pagina para pesquisa de um trabalho, a historia esta excelente e eu adorei…

  3. Aires Gameiro Says:

    Tenho uma comunicação sobre o compromisso do Hospital para um colóquio que não se realizou na data prevista, sendo adiado sem data, e agora gostei de ver esta bela síntese da história do Hospital.
    Se um dia resolverem levar o colóquio por diante agradeço notícias.
    Aires Gameiro


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